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Existem duas posições claramente opostas que, na prática, podem se entrelaçar


AS GUERRAS não existem apenas no mundo. Dentro da igreja há também uma guerra de baixa intensidade. Ela faz muitas vítimas, com os instrumentos adequados da guerra religiosa, escondidos sob palavras, não raro, piedosas e espirituais. Só para dar um exemplo pessoal: quando fui condenado pelo então cardeal Joseph Ratzinger em 1985 por causa do meu livro "Igreja: carisma e poder", foi-me imposto o que ele denominou de "silêncio obsequioso". Esse eufemismo implicava muita violência: deposição de cátedra, remoção de editor religioso da Vozes, da redação da "Revista Eclesiástica Brasileira", proibição severa de falar, dar entrevistas, escrever e publicar sobre qualquer assunto. Objetivamente "obsequioso" não possui nada de obsequioso. O mesmo ocorreu com o teólogo da libertação Jon Sobrino, de El Salvador, condenado em fevereiro deste ano. Recebeu apenas uma "notificação". Esta inocente palavra, "notificatio", esconde violência porque ele não pode mais falar, nem dar aulas, conceder entrevistas e acompanhar qualquer trabalho pastoral. O vitimado por uma condenação é "moralmente" morto, pois vem colocado sob suspeita geral, tolhido, isolado e psicologicamente submetido a graves transtornos, o que levou a alguns a terem neuroses e a um deles, famoso, perseguido por idéias de suicídio. Nós fomos, no mínimo, caçados e anulados, pois um teólogo possui apenas como instrumento de trabalho a palavra escrita e falada. E estas lhe foram seqüestradas, coisa que conhecemos das ditaduras militares. O que foi escrito acima parece irrelevante, pois é algo pessoal, mas não deixa de ser ilustrativo da guerra religiosa vigente dentro da Igreja. Nela o então cardeal Ratzinger era general. Hoje como papa é o comandante em chefe. Qual é este embate? É importante referi-lo para entender palavras e advertências do papa e a partir de que modelo de teologia e de Igreja constrói o seu discurso. Dito de uma forma simplificadora, mas real: há na igreja duas opções claramente opostas, o que não impede que, na prática, possam se entrelaçar. Face ao mundo, à cultura e à sociedade há a atitude de confronto ou de diálogo. A partir da Reforma no século 16 predominou na Igreja Católica romana a atitude de confronto: primeiro com as Igrejas protestantes (evangélicas) e depois com a modernidade. Face à Reforma houve excomunhões, e face à modernidade, anátemas e condenações de coisas que nos parecem até risíveis: contra a ciência, a democracia, os direitos humanos, a industrialização. A Igreja se havia transformado numa fortaleza contra as vagas de reformismo, secularismo, modernismo e relativismo. Missão da igreja, segundo esse modelo do confronto, é testemunhar as verdades eternas, anunciar a Cristo como o único Redentor da humanidade e a Igreja sua única e exclusiva mediadora, fora da qual não há salvação. Em seu documento de 2000, Dominus Jesus, o cardeal Ratzinger reafirma tal visão com a máxima clareza e laivos de fundamentalismo. Tudo é centralizado no Cristo. Esta atitude belicosa predominou até os anos 60 do século passado quando foi eleito um papa ancião, quase desconhecido, mas cheio de coração e bom senso, João 23. Seu propósito era passar do anátema ao diálogo. Quis escancarar as portas e janelas da Igreja para arejá-la. Considerava blasfêmia contra o Espírito Santo imaginar que os modernos só pensam erros e praticam o mal. Há bondade no mundo, como há maldade na Igreja. Importa é dialogar, intercambiar e aprender um do outro. A Igreja que evangeliza deve ela mesma ser evangelizada por tudo aquilo que de bom, honesto, verdadeiro e sagrado puder ser identificado na história humana. Deus mesmo chega sempre antes do missionário, pois o Espírito Criador sopra onde quiser e está sempre presente nas buscas humanas suscitando bondade, justiça, compaixão e amor em todos. A figura do Espírito ganha centralidade. Fruto da opção pelo diálogo foi o Concílio Vaticano 2º (1962-1965), que representou um acerto de contas com a Reforma pelo ecumenismo e com a modernidade pelo mútuo reconhecimento e pela colaboração em vista de algo maior que a própria Igreja, uma humanidade mais dignificada e uma Terra mais cuidada. Este "aggiornamento" trouxe grande vitalidade em toda a Igreja, especialmente na América Latina, que criou espaço para aquilo que se chamou de Igreja da base ou da libertação e da Teologia da Libertação. Mas acirrou também as frentes. Grupos conservadores, especialmente incrustados na burocracia do Vaticano, conseguiram se articular e organizaram um movimento de restauração, de volta à grande tradição. Este grupo foi enormemente reforçado sob João Paulo 2º, que vinha da resistência polonesa ao marxismo. Chamou como braço direito e principal conselheiro, seu amigo, o teólogo Joseph Ratzinger, elevando-o diretamente ao cardinalato e fazendo-o presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, a ex-Inquisição. Aí se processou de forma sistemática, vinda de cima, uma verdadeira Contra-Reforma Católica. O próprio cardeal Ratzinger no seu conhecido "Rapporto sulla fede", de 1985, um verdadeiro balanço da fé, dizia claramente: "A restauração que propiciamos busca um novo equilíbrio depois dos exageros e de uma abertura indiscriminada ao mundo". Ele elaborou teologicamente a opção pelo confronto a partir de sua formação de base, o agostinismo, sobre o qual fez duas teses minuciosamente trabalhadas. Notoriamente Santo Agostinho opera um dualismo na visão do mundo e da Igreja. Por um lado está a cidade de Deus e por outro a cidade dos homens, por uma parte a natureza decaída e por outra, a graça sobrenatural. O Adão decaído não pode redimir-se por si mesmo, seja pelo trabalho religioso e ético (heresia do pelagianismo) seja por seu empenho social e cultural. Precisa do Redentor. Ele se continua e se faz presente pela Igreja, sem a qual nada ganha altura sobrenatural e se salva. Em razão desta chave de leitura, o papa Bento 16 se confronta com a modernidade, vendo nela a arrogância do homem buscando sua emancipação por próprias forças. Por mais valores que ela possa apresentar, não são suficientes, pois não alcançam o nível sobrenatural, único caráter realmente emancipador. Nela vê mais que tudo secularismo, materialismo e relativismo. Essa é também sua dificuldade com a Teologia da Libertação. A libertação social, econômica e política que pretendemos, segundo ele, não é verdadeira libertação, porque não passa pela mediação do sobrenatural. Para concluir, se o atual papa tivesse assumido uma teologia do Espírito, coisa ausente em sua produção teológica, teria uma leitura menos pessimista da modernidade. No atual momento se dá o forte embate entre essas duas opções. A Igreja latino-americana pende mais pela opção do diálogo. Esta é mais adequada à cultura brasileira que não é fundamentalista nem dogmática, mas profundamente relacional e dialogal com todas as correntes espirituais. Somos naturalmente sincréticos na convicção de que em todos os caminhos espirituais há bondade para além dos desvios e que, definitivamente, tudo acaba em Deus. Não parece ser esta a opção de Bento 16: seus discursos enfatizam a construção da Igreja em sua forte identidade para que seu testemunho seja vigoroso e possa levar valores perenes a um mundo carente deles, como se viu claramente em seu discurso aos bispos brasileiros na catedral de São Paulo. Essa Igreja é necessariamente de poucos, coisa reafirmada pelo teólogo Ratzinger em muitas de suas obras. Mas esses poucos devem ser santos, zelosos e comprometido com a missão de orientar e conduzir os muitos, sem se deixar contaminar por eles e pelo mundo. Ocorre que esses poucos nem sempre são bons. Haja vista os padres pedófilos. Por isso, a Igreja precisa renunciar a certa arrogância, ser mais humilde e confiar que o Espírito e o Cristo cósmico dirijam seus passos e os da humanidade por caminhos com sentido e vida.
LEONARDO BOFF é teólogo da libertação e escritor. Em 1985, foi condenado pelo então cardeal Joseph Ratzinger ao "silêncio obsequioso"

Evangélicos de Aparecida ignoram papa na cidade


No santuário do catolicismo do Brasil, repete-se o mesmo processo que agora o Vaticano quer reverter: o crescimento das igrejas evangélicas no maior país católico do planeta. Segundo dados do IBGE, Aparecida é apenas a 1451ª no ranking dos municípios com maior população católica, com 90,49% dos habitantes, segundo o censo de 2000.As deserções das hostes da padroeira são patentes comparando com o levantamento de 1991, quando 94,37% dos locais se identificaram como seguidores da Santa Sé. "Prefiro não saber se algum de nossos crentes foi ver a passagem do papa. Mesmo que tenha tido por curiosidade, não devia ter ido", sentencia o pastor Ferreira. Sua igreja, liderada pelo pastor midiático R.R. Soares, se manteve aberta 12h durante o fim-de-semana que Bento 16 esteve na cidade. "Não pensei em fechar, afinal, temos que atender mais de 160 pessoas que precisam de auxílio espiritual", argumenta.

Aparecida é conhecida por atrair milhares de peregrinos que a visitam e tem sua economia dependente da fé -há até um "shopping do romeiro"-, mas perde ano a ano rebanho entre sua população estável."O padre até ficou de mal de mim. Ficou sem falar comigo um ano, mas depois comprendeu minha conversão", afirma Amália Nascimento, obreira de um templo da Assembléia de Deus localizado em uma garagem da avenida Padroeira do Brasil.Seu marido cuida da unidade no santuário católico. "Eu mesmo dei aulas de catecismos para muito figurão na cidade, até para o delegado daqui. Mas foi depois que virou evangélico que encontrei paz na vida", relata César Nascimento, que há três anos cuida do templo.Já a Igreja Prestiberiana Renovada está planejando sair da fábrica em que instalou seu templo e construir ainda este ano sua primeira igreja propriamente dita em Aparecida. "Há cinco anos, dávamos culto em uma sala de 15 metros quadrados. Hoje, precisamos um lugar para 1.000 pessoas", afirma o pastor José Benedito de Almeida. Ele quer um sede para fazer frente a vizinha Adventista do Sétima Dia, com lugar maior para seus fiéis.O pastor José Benedito diz acreditar que mesmo o movimento católico Renovação Carismática, liderada pelo televisivo padre Marcelo, não deterá o crescimento dos evangélicos. "O carismático é um católico insatisfeito e tenta nos imitar", afirma.Entre as lideranças católicas, não há consenso sobre a razão da diminuição da popularidade da fé romana. A ala conservadora, alinhada com o atual papa, aponta que a Teologia da Libertação (movimento que mistura cristianismo com marxismo e foi forte nos anos 70 e 80) atrapalhou o trabalho espiritual ao acentuar muito o trabalho social. Já os progressistas da igreja criticam o distanciamento do Vaticano da população mais pobre, principalmente nas periferias das grandes cidades.Esse assunto deve ser um dos pontos centrais da 5ª Celam (Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho), afinal, o fenômeno é continental e muitos analistass apontam o interesse dos EUA no crescimento das religiões evangélicas na região.

Massa ganha disputa contra Alonso na largada e vence GP da Espanha

O brasileiro Felipe Massa completou o fim-de-semana de domínio e venceu, neste domingo, o GP da Espanha de F-1. Foi o segundo triunfo consecutivo do piloto da Ferrari, que superou o seu companheiro Kimi Raikkonen na classificação geral mas ainda está atrás dos dois rivais da McLaren.Depois de um início inconstante de Massa, com um sexto lugar na Austrália e um quinto na Malásia, Massa já se recoloca entre os favoritos ao título e está em terceiro na classificação, com 27 pontos. A liderança é do inglês Lewis HaA vitória de Massa começou a ser desenhada na largada. O brasileiro, que saiu na pole position, teve uma disputa acirrada com o bicampeão mundial Alonso, mas levou a melhor ao dividir a primeira curva, jogando o rival para fora da pista, e tomou a liderança.Depois de jogar Alonso para o quarto lugar, Massa conduziu sua Ferrari de forma tranqüila. Aos poucos, ele aumentou a diferença para seus concorrentes da McLaren e só foi ultrapassado quando parou nos boxes para a troca de pneus e reabastecimento.Os dois pit-stops, entretanto, não alteraram a ordem dos pilotos na pista, e Massa seguiu firme até a bandeirada para conquistar a quarta vitória na carreira. O brasileiro foi seguido no pódio por Hamilton, que, aos 21 anos, obteve o quarto pódio seguido -um recorde para um estreante-, e por Alonso.O brasileiro Rubens Barrichello até ameaçou entrar na zona de pontuação. Mesmo guiando o problemático carro da Honda, ele chegou a ocupar o oitavo lugar, mas caiu de rendimento na segunda metade da prova e terminou em décimo. O seu companheiro, o inglês Jenson Button, foi o 12º.No Mundial de construtores, a McLaren abriu um pouco de vantagem, com 58 pontos contra 49 da Ferrari. A equipe italiana caiu por causa do abandono do finlandês Kimi Raikkonen na décima volta, a primeira desistência da temporada entre as duas principais escuderias da F-1.A provaO momento mais emocionante da corrida foi a largada. Na primeira curva, Massa corria pela pista interna, mas Alonso se mostrava mais rápido. Na disputa pela ponta, os carros se tocaram, e o espanhol levou a pior sendo jogado para fora da pista e caindo para o quarto lugar.No outro duelo entre Ferrari e McLaren, Hamilton foi mais rápido que Raikkonen e impediu que a escuderia italiana esboçasse uma dobradinha.A corrida tinha tudo para terminar do jeito que estava na primeira volta, mas Raikkonen sofreu um problema mecânico e abandonou na décima volta. Alonso, então, subiu uma posição e a sustentou até o pódio.Enquanto isso, Massa iniciava sua disparada na liderança que não o preocupou nem quando foi para os boxes pela primeira vez, na 19ª volta. Nesse instante, houve um princípio de incêncio por causa do vazamento de combustível, mas o problema foi contornado.Na metade da corrida, Massa já tinha 20 segundos de vantagem para Hamilton, o que foi facilmente administrado até o fim. Enquanto isso, o polonês Robert Kubica se consolidou na quarta colocação, mantendo o bom desempenho da BMW neste início de temporada.A zona de pontuação teve bastante alternância entre os pilotos. A Renault optou por fazer três pit-stops e ficou longe da briga por melhores posições. Assim, o escocês David Coulthard, da Red Bull, foi o quinto, seguido pelo alemão Nico Rosberg, da Williams.O primeiro carro da Renault a chegar foi o do finlandês Heikki Kovalainen, na sétima colocação. Ele vinha sendo seguido pelo companheiro Giancarlo Fisichella, mas o italiano teve de fazer a terceira parada a três voltas do fim e perdeu a posição para o japonês Takuma Sato, da Super Aguri. milton, com 30, seguido pelo espanhol Fernando Alonso, com 28.
A vitória de Massa começou a ser desenhada na largada. O brasileiro, que saiu na pole position, teve uma disputa acirrada com o bicampeão mundial Alonso, mas levou a melhor ao dividir a primeira curva, jogando o rival para fora da pista, e tomou a liderança.Depois de jogar Alonso para o quarto lugar, Massa conduziu sua Ferrari de forma tranqüila. Aos poucos, ele aumentou a diferença para seus concorrentes da McLaren e só foi ultrapassado quando parou nos boxes para a troca de pneus e reabastecimento.Os dois pit-stops, entretanto, não alteraram a ordem dos pilotos na pista, e Massa seguiu firme até a bandeirada para conquistar a quarta vitória na carreira. O brasileiro foi seguido no pódio por Hamilton, que, aos 21 anos, obteve o quarto pódio seguido -um recorde para um estreante-, e por Alonso.O brasileiro Rubens Barrichello até ameaçou entrar na zona de pontuação. Mesmo guiando o problemático carro da Honda, ele chegou a ocupar o oitavo lugar, mas caiu de rendimento na segunda metade da prova e terminou em décimo. O seu companheiro, o inglês Jenson Button, foi o 12º.No Mundial de construtores, a McLaren abriu um pouco de vantagem, com 58 pontos contra 49 da Ferrari. A equipe italiana caiu por causa do abandono do finlandês Kimi Raikkonen na décima volta, a primeira desistência da temporada entre as duas principais escuderias da F-1.A provaO momento mais emocionante da corrida foi a largada. Na primeira curva, Massa corria pela pista interna, mas Alonso se mostrava mais rápido. Na disputa pela ponta, os carros se tocaram, e o espanhol levou a pior sendo jogado para fora da pista e caindo para o quarto lugar.No outro duelo entre Ferrari e McLaren, Hamilton foi mais rápido que Raikkonen e impediu que a escuderia italiana esboçasse uma dobradinha.A corrida tinha tudo para terminar do jeito que estava na primeira volta, mas Raikkonen sofreu um problema mecânico e abandonou na décima volta. Alonso, então, subiu uma posição e a sustentou até o pódio.Enquanto isso, Massa iniciava sua disparada na liderança que não o preocupou nem quando foi para os boxes pela primeira vez, na 19ª volta. Nesse instante, houve um princípio de incêncio por causa do vazamento de combustível, mas o problema foi contornado.Na metade da corrida, Massa já tinha 20 segundos de vantagem para Hamilton, o que foi facilmente administrado até o fim. Enquanto isso, o polonês Robert Kubica se consolidou na quarta colocação, mantendo o bom desempenho da BMW neste início de temporada.A zona de pontuação teve bastante alternância entre os pilotos. A Renault optou por fazer três pit-stops e ficou longe da briga por melhores posições. Assim, o escocês David Coulthard, da Red Bull, foi o quinto, seguido pelo alemão Nico Rosberg, da Williams.O primeiro carro da Renault a chegar foi o do finlandês Heikki Kovalainen, na sétima colocação. Ele vinha sendo seguido pelo companheiro Giancarlo Fisichella, mas o italiano teve de fazer a terceira parada a três voltas do fim e perdeu a posição para o japonês Takuma Sato, da Super Aguri.