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Folha de São Paulo Ministérios não crêem em corte efetivo no Orçamento
Contingenciamento de R$ 19,2 bi deve ser contornado por emendas parlamentares
JULIANA ROCHA
Nem os ministérios mais afetados pelo contingenciamento do governo, de R$ 19,2 bilhões no Orçamento, acreditam que haverá corte efetivo nos seus gastos neste ano. Decreto publicado ontem no "Diário Oficial" da União traz uma redução na disponibilidade de cada ministério para as despesas não-obrigatórias, que atingiu principalmente as Cidades, os Esportes e o Turismo.
Parte dos cortes será compensada com o aumento de despesas obrigatórias, nas quais o governo inclui R$ 11 bilhões de créditos extraordinários para obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). No total, o aumento de despesas obrigatórias foi de R$ 17,7 bilhões.
Os ministérios das Cidades, do Turismo e da Educação receberam a promessa do Planejamento de que o dinheiro deverá ser liberado ao longo do ano por emendas parlamentares. George Soares, diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do Planejamento, admite que o decreto publicado ontem traz só o contingenciamento para o ano. Nada impede que, se a arrecadação crescer acima do esperado, o dinheiro não seja liberado.
O ministro Márcio Fortes (Cidades) disse à Folha ter certeza de que o orçamento da sua pasta neste ano será o mesmo previsto na lei orçamentária aprovada pelo Congresso, de R$ 5,9 bilhões. O corte anunciado na pasta foi de R$ 2,7 bilhões, uma redução de 45% em relação ao que os parlamentares aprovaram. Com isso, Fortes passa a ter disponível R$ 3,2 bilhões neste ano.
O Ministério da Saúde teve um corte de R$ 2,5 bilhões sobre o aprovado pelo Congresso, uma queda de 6%. E o da Educação, de R$ 1,6 bilhão.
"Esse corte foi feito nas emendas parlamentares, que já nascem contingenciadas. Mas ao longo do ano serão liberadas", afirmou Fortes. "Tive a garantia de que o PAC não vai ser contingenciado. A minha pasta não terá corte."
Do total contingenciado, a maior parte é dinheiro que seria destinado a investimentos. Dos R$ 19,2 bilhões do corte, só R$ 7 bilhões são despesas de custeio. Apesar disso, Soares disse que o principal critério no bloqueio do Orçamento foi poupar o PAC.
Segundo ele, Esportes e Turismo tiveram corte proporcionalmente maior, de 84% e 85%, porque não têm obras em andamento. Também são ministérios de menor porte e que contam com emendas orçamentárias ao longo do ano.
Soares não informou qual a destinação dos créditos extraordinários, listados como despesas obrigatórias. Mas confirmou que será todo destinado ao PAC, à exceção de R$ 614 bilhões liberados para o Ministério da Integração Nacional investir em defesa civil. Dos R$ 11 bilhões, ele disse que R$ 8,1 bilhões vieram na forma de restos a pagar do ano passado, ou seja, obras que deixaram de ser pagas em 2007 e entram no Orçamento deste ano.
Francisco Lopreato, especialista em contas públicas da Unicamp, avalia que o governo só fará o contingenciamento efetivo anunciado ontem se o aumento de juros provocar um desaquecimento maior do que o esperado na economia e, assim, a arrecadação não cumprir a expectativa. "Se a arrecadação se comportar como esperado, o dinheiro sai por emenda."
Folha de São Paulo Padre que sumiu com balões não concluiu curso de vôo
Marinha continuou as buscas pelo religioso no litoral de Santa Catarina, mas nenhuma pista foi localizada até o início da noite de ontem
MATHEUS PICHONELLI
Pedaços dos balões utilizados pelo padre e encontrados no mar
Desaparecido desde domingo, após levantar vôo amarrado a mil balões de festa, em Paranaguá (PR), o padre Adelir de Carli não conseguiu terminar um curso de vôo iniciado em 2005. Segundo o instrutor de vôo Márcio Lichtnow, que foi seu professor em um curso de parapente (espécie de pára-quedas retangular) em Curitiba, por falta de disciplina e assiduidade, o padre foi "convidado a se retirar" da escola.
O instrutor diz que o religioso "achava que era autodidata". "Ele não acatava orientações. Não sabia voar e, mesmo assim, se jogou nessa", disse o piloto, que afirmou ter 15 anos de experiência.
No domingo, Carli decidiu decolar mesmo com tempo ruim. Seu plano era ficar 20 horas no ar, em direção ao interior do Paraná, mas acabou se deslocando para o oceano.
A Marinha continuou ontem as buscas pelo padre, no litoral sul de Santa Catarina. Houve incursões em alto-mar, a mais de 50 km da costa, e em várias ilhas. Nenhuma pista foi localizada até o início da noite.
Amigos do padre o defenderam de acusações de imperícia e inexperiência. "Ele tinha todo o preparo para fazer o vôo. Era qualificado e praticante de parapente. O que aconteceu foi uma fatalidade, como em um acidente de trânsito", afirmou o empresário José Carlos Bom, pára-quedista e membro da equipe de apoio de Carli.
O comerciante Ernesto Klein, coordenador do projeto de vôo do padre, disse que ele não é inexperiente, pois praticou parapente por mais de três anos. "Estão falando muita coisa que não é verdade."
Segundo o ex-instrutor do religioso, Carli freqüentou apenas 10% das aulas do curso de parapente. "Ele só fez a introdução do curso, que tem 40 horas de aulas teóricas." Se tivesse completado o curso, diz o professor, Carli poderia ter evitado o incidente de domingo. Saberia, por exemplo, avaliar que as condições meteorológicas não eram adequadas.
Ainda segundo Lichtnow, o aparelho de GPS que o padre levava não era indicado para vôos, mas para trilhas em solo. "Para voar, é preciso um aparelho melhor, com mapa, informações sobre situação do solo e velocidade de deslocamento."
Comoção
Em Paranaguá, na paróquia de Carli, fiéis fazem jejum, adiam compromissos familiares e promovem correntes de oração para que o religioso seja localizado vivo.
"Era como se ele fosse um pai para nós", disse o aposentado Domingos Alves Andrioli, 63.
Uma dona-de-casa de 38 anos, que pediu para não ser identificada, afirmou que jejuava para que o padre fosse encontrado com vida.